Matrizes culturais do Brasil
A população brasileira é formada
por três principais grupos étnicos : o indígena, o branco e o negro africano.
Os índios contribuíram muito para a formação da cultura brasileira:
culinária, instrumentos musicais, nomes de lugares, a presença de palavras
indígenas no português falado no Brasil são alguns exemplos.
Somos multiculturais por formação: os
imigrantes contribuíram muito na formação da população brasileira ao lado de
outros grupos e culturas, como portugueses, indígenas e africanos. Inúmeras
levas de estrangeiros chegaram ao país, principalmente ao longo do século XIX e
nas primeiras décadas do século XX.
No século XX, mais um grupo étnico
veio participar da formação da população brasileira: o asiático, representado,
principalmente, pelos japoneses, chineses e coreanos.
Etnia corresponde a um agrupamento
humano cuja unidade repousa na comunhão de língua, cultura e de consciência
grupal. Podem
existir, em uma etnia, traços físicos comuns, entretanto não são eles que a
definem, e sim o sentimento de pertencer ao agrupamento ou à comunidade. O
termo raça, por sua vez,
largamente utilizado no passado, é hoje considerado impróprio, pois a ciência
já constatou que, no sentido biológico, não existe raça humana.
Durante muito tempo utilizou-se a miscigenação da nossa população,
isto é, o cruzamento entre grupos étnicos, para se afirmar que no Brasil
sempre existiu uma “democracia racial”.
No entanto, essa visão é hoje considerada um mito, pois obscurece a
realidade do preconceito e da discriminação ainda presentes na sociedade
brasileira. No passado, tal mito disfarçava o preconceito de cor em relação
ao indígena, ao negro e aos mestiços e, também, o preconceito social
determinado pela renda e pelo status social. Serviu de forma admirável à classe
dominante para mascarar as opressivas relações étnicas e sociais no Brasil.
Os recenseamentos da população
brasileira elaborados desde 1950: com exceção do realizado em 1970, sempre
fizeram o levantamento da população segundo a cor dos indivíduos. No entanto,
esses dados merecem uma análise mais crítica, entre outras razões, em virtude:
·
De ser autodeclarados (declaração em que o declarante declara
algo sobre si mesmo), uma vez que o IBGE solicita que cada indivíduo se
reconheça em um dos poucos parâmetros relativos à cor previstos no instrumento
da pesquisa;
·
De esses parâmetros serem imprecisos – como, por exemplo, a noção de
pardo, que abrange descendentes tanto de africanos quanto de indígenas,
e a noção de amarelo, que engloba indivíduos indígenas, japoneses, coreanos,
chineses e seus descendentes. Esse problema, embora não resolvido, foi
minorado no censo de 2000 realizado pelo IBGE, onde os indígenas foram
agrupados separadamente dos orientais.
Os dados de 2006 mostram a
consolidação de um movimento, sinalizam que mais pessoas em nosso país estão
assumindo sua cor de pele, abrindo mão, assim, de uma ideologia de fundo
racista que as fazia desvalorizar sua cor. Nos últimos anos, o fortalecimento
do movimento negro e a transformação positiva da imagem pública das pessoas
desse grupo em nossa sociedade vêm crescendo.
A dinâmica
demográfica
A evolução
demográfica do Brasil é subdividida em dois grandes períodos e, a partir da
noção de transição demográfica, iremos comparar com a verificada em outros
países. Além da queda acentuada nas taxas de mortalidade e de fecundidade a partir
da acelerada urbanização, vamos verificar outros fatores responsáveis pela
variação das taxas de natalidade no Brasil.
O crescimento populacional
decorre de duas variáveis: o saldo entre o número de imigrantes
(pessoas que entram no país) e o número de emigrantes (pessoas que deixa
o país) e o saldo entre o número de nascimentos e o número de óbitos.
Esta última variável constitui o
crescimento natural ou vegetativo. No caso do Brasil, este último processo
é de grande importância, pois a imigração só teve influência significativa no
crescimento populacional no final do século XIX até 1934.
A taxa de mortalidade expressa a proporção entre o número
de óbitos e a população absoluta de um lugar, em determinado intervalo de
tempo. A taxa de natalidade
expressa a proporção entre o número de nascimentos e a população absoluta de um
lugar, em determinado intervalo de tempo.
Crescimento
populacional brasileiro entre 1872 e 2000 e projeções para 2010 e 2020 podemos
analisar dois grandes períodos da dinâmica geográfica brasileira:
·
o período da aceleração
demográfica, que aconteceu entre 1940 a 1960: taxas de natalidade
elevadas, enquanto as taxas de mortalidade começaram a declinar de forma
significativa, em razão do maior acesso à rede médico-hospitalar, dos
avanços da medicina e das vacinações em massa, gerando, em conseqüência, grande
crescimento vegetativo ou natural da população brasileira. A partir do ano de
1960, iniciou-se um declínio do crescimento populacional brasileiro mostrado
através das quedas percentuais de 35,1%, em 1960, para 15,6%, em 2000 (de
acordo com projeções do IBGE para 2010 e 2020, o declínio do crescimento populacional
brasileiro deverá continuar). As principais causas da queda do crescimento
populacional são a revolução da tecnologia bioquímica, o aumento do número de
pessoas com acesso à rede médico-hospitalar, às vacinações em massa e à
melhoria das condições sanitárias, que contribuíram de forma significativa
para a queda acentuada das taxas de mortalidade.
·
o segundo período,
o da desaceleração demográfica e transição em curso, aconteceu a
partir de 1970 até os dias atuais: houve reduções consideráveis das taxas de
natalidade, seguidas de pequena diminuição das taxas de mortalidade, o que
refletiu na diminuição do crescimento natural da população brasileira. Algumas
transformações ocorridas no Brasil explicam a queda das taxas de natalidade,
tais como a crescente urbanização, o aumento da taxa de escolarização, a
entrada da mulher no mercado de trabalho e a popularização da pílula
anticoncepcional e de outros métodos contraceptivos. O conjunto desses fatores
favoreceu a redução do número de filhos, muitas vezes traduzida pelo
planejamento familiar.
A
taxa de fecundidade consiste no número
médio de filhos que as mulheres têm no decorrer de suas vidas, em
determinada população. Para obter essa taxa. divide-se o total dos nascimentos
pelo número de mulheres em idade reprodutiva (de 15 a 49 anos) da
população considerada.
No
Brasil a taxa de fecundidade por anos de estudo das mulheres vem diminuido
sensivelmente conforme aumentam os anos de estudo das mulheres. As diferentes taxas de fecundidade entre as
grandes regiões brasileiras são explicadas pelas diferenças regionais de
desenvolvimento econômico, o que implica maior nível educacional da população e
a significativa presença da mulher no mercado de trabalho, entre outros
fatores. Mulheres com baixo grau de instrução apresentam as maiores taxas de
fecundidade.
A queda da taxa de
fecundidade no Brasil começou na década de 1970. Naquela década, a média de
filhos por mulher era 5,8 (quase 6 filhos), em 2006 caiu para 2 filhos por
mulher e em 2007 esse índice baixou para 1,95 filho por mulher. Segundo o IBGE,
uma taxa de fecundidade inferior a 2,0 filhos por mulher não garante a
reposição da população atual, demonstrando uma tendência de que o número de
habitantes poderá diminuir em números absolutos. A redução do número médio
de filhos por mulher vem caindo em todo o mundo. Particularmente no Brasil,
iniciou-se com as mulheres das classes média e alta dos centros
urbanos do Sul e do Sudeste - que apresentavam maior taxa de escolarização e
tinham mais acesso as informações – e, pouco a pouco, atingiu as demais
classes sociais e regiões (estendendo-se, atualmente, pelas áreas rurais). Entre
as regiões brasileiras, em 2005 a Norte tinha o maior índice de fecundidade
(2,5 filhos por mulher), e a Sudeste, o menor (1,9 filho por mulher).
Como existe
uma estreita relação entre desenvolvimento econômico e taxa de
fecundidade, pelas razões apontadas anteriormente, nos países
"desenvolvidos" ou industrializados, de modo geral, as taxas de
fecundidade são baixas quando comparadas às dos países "subdesenvolvidos" (a taxa de
fecundidade dos países "desenvolvidos” situa-se em torno de 1,0).
Os estágios de transição demográfica expressa como ocomportamento das taxas de natalidade e de mortalidade de uma população, no decorrer de um período mudam. Essa noção se refere à
transição entre duas situações de crescimento demográfico relativamente reduzido. O período
pré-transicional é conhecido como regime
demográfico tradicional, e é definido por apresentar uma alta taxa de mortalidade e por uma taxa de natalidade também
elevada. Em seguida, observe que na Fase I da transição demográfica ocorre a redução das taxas de mortalidade
(linha lilás) e registra-se um elevado crescimento
vegetativo (natalidade, a linha verde) da
população. A Fase II, por sua vez, caracteriza-se pela redução das
taxas de natalidade e,
por último, na Fase III, período pós-transicional,
conhecido como regime demográfico moderno,definido por baixas
taxas de mortalidade e de natalidade e, conseqüentemente, do crescimento
vegetativo.
O Brasil, segundo estudos do IBGE, encontra-se na fase de transição
demográfica em curso (Fase II), caminhando para a de transição demográfica
avançada, que se caracteriza pela diminuição acentuada das taxas de natalidade
e de fecundidade e, conseqüentemente, pelo crescimento populacional moderado. Segundo estimativas, nos próximos anos a taxa de natalidade deverá ser
inferior a 20, e a de fecundidade deverá declinar ainda mais.
A análise da
pirâmide etária oferece
diversas informações sobre a população de um país, como a quantidade de
habitantes por faixa etária, a proporção por sexo e a porcentagem de pessoas
em idade produtiva (ou seja, as que se encontram entre 10 e 65 anos) no
total da população. Para interpretar uma pirâmide etária, devemos
observar os seguintes critérios:
·
no eixo das
abscissas (horizontal), registra-se a proporção de habitantes em cada faixa etária;
no eixo das ordenadas (vertical), as faixas de idade;
·
os dados da base
ao topo correspondem à quantidade de população em cada faixa etária de acordo
com o gênero (à esquerda, população do sexo masculino; à direita, do sexo
feminino);
·
observamos diferenças entre a quantidade de
população masculina e de população feminina em cada faixa etária
correspondente;
·
quando a diferença
entre a parcela intermediária - entre 15 e 60 anos, que corresponde à idade
produtiva - e a base da pirâmide for acentuada, o país terá um descompasso entre
a população em idade produtiva e os que deverão ser sustentados (crianças e
idosos);
·
o vértice (ponta)
em relação ao resto da pirâmide: ele (vértice) apresenta a quantidade de
população de idosos em relação ao resto da pirâmide;
As mudanças na dinâmica
demográfica brasileira influem diretamente nas políticas públicas de
planejamento e de atendimento social. Ao comparar a pirâmide brasileira com as
outras, verificamos que as pirâmides da Rússia e da China mostram uma estrutura
etária mais envelhecida, enquanto a estrutura da Índia é jovem. A pirâmide
russa apresenta maior quantidade de mulheres do que de homens, principalmente
nas faixas acima dos 65 anos, em virtude dos vários conflitos internos e das
guerras pelos quais o país passou em sua história, o que afetou diretamente o
contingente masculino. Quanto à pirâmide brasileira, as quedas dos níveis de
fecundidade e mortalidade nos últimos 40 anos evidenciam que o país está
passando por uma fase de transição, fazendo com que o desenho de sua pirâmide
etária apresente mudanças ao longo do tempo, passando de uma estrutura jovem
nas décadas de 1960, 1970 e 1980, para uma bem menos jovem projetada para o
período 2005-2010.
O trabalho e o mercado de trabalho
A distribuição
da População Economicamente Ativa (PEA) do Brasil segundo os setores de
produção (primário, secundário e terciário), ressaltando suas transformações ao
longo do processo de urbanização do país.
É cada vez maior o número de brasileiras que também trabalha fora de casa, aumentando o orçamento familiar ou sendo elas mesmas chefes de suas
famílias. Muitas mulheres enfrentam duas jornadas de trabalho, uma fora de
casa, e outra quando retornam ao lar e se dedicam aos afazeres domésticos. De acordo com o IBGE, ao longo da última década observa-se a manutenção
da tendência de aumento na proporção de famílias chefiadas por mulheres, que passou de 24,9% (1997) a 33,0% (2007), o que representa, de acordo
com os dados da Pesquisa nacional por amostra de domicílios - Pnad
2007, 19,5 milhões de famílias que identificam uma mulher como sua
principal responsável.
População Economicamente Ativa (PEA) é o estudo
setorial da economia, uma categoria fundamental para a análise econômica ou
para investigação das estruturas econômicas de um país. Denomina o conjunto
da população em idade produtiva (10 a 65 anos) e que trabalha em atividades
remuneradas, tanto as pessoas ocupadas (com trabalho) como as desocupadas (sem
trabalho, mas que tomam alguma providência efetiva no sentido de procurar
trabalho).
População não
economicamente ativa designa o conjunto das pessoas que não trabalham fora do lar, como crianças,
estudantes, donas de casa, aposentados, pessoas impossibilitadas de trabalhar
por motivo de doença etc., incluindo as que não estão empenhadas na busca de
emprego.
Os setores econômicos ou setores de produção
são divididos em três setores:
·
setor primário: inclui a
agricultura, a pecuária, a caça, a pesca e as explorações florestais;
·
setor secundário: abrange a
atividade industrial, incluindo as indústrias de transformação de bens de
consumo e de produção e a de construção civil, e a extração mineral;
·
setor terciário: agrupa as
atividades relacionadas à prestação de serviços (bancos, transporte, saúde,
educação, profissões liberais, funcionalismo público etc.) e ao comércio.
A importância de
estudar a distribuição da PEA de um país, segundo suas atividades econômicas ou
setores de produção, entre outras razões, possibilita fornecer elementos ou um
quadro de referência para a avaliação da economia do país e de suas
tendências, além de proporcionar uma visão sobre suas transformações no
decorrer do tempo, o que é relevante para efeito de planejamento econômico e
social.
O declínio da PEA no setor primário: de 70,2%
em 1940 (quando o Brasil era um país
predominantemente rural) para 20,6% em
2005. Entre outros fatores explicativos desse declínio e do aumento da
população economicamente ativa nos setores secundário e terciário estão a
industrialização, a urbanização, a permanência de uma estrutura fundiária
concentrada, o difícil acesso à terra, a mecanização e a modernização da
agricultura, entre outros. A diminuição
relativa da força de trabalho empregada na agropecuária processou-se
vigorosamente, acelerando-se nas décadas de 1960 e 1970. Tal processo liberou
trabalhadores para a economia urbana, fornecendo mão de obra barata em grande
escala, porém pouco qualificada, para construção civil, indústria,
comércio e serviços. Em uma visão mais ampla desse processo, o modelo
econômico do país estava apoiado no rebaixamento dos salários e na maximização
dos lucros, respaldado pela massa de migrantes rurais gerada no setor primário;
- a partir de 1980
verificou-se uma queda do percentual de pessoas empregadas no setor secundário
de produção, por racionalização do trabalho (incluída a automação
industrial), levando à dispensa de mão de obra. Se no período de maior
crescimento industrial do final da década de 1970 até 1980, as atividades
manufatureiras e da construção civil absorviam de forma mais significativa a
mão de obra liberada pelas atividades rurais (como apontado anteriormente), em
toda a década de 1980 o aumento de trabalhadores no setor de serviços esteve
consideravelmente acima do verificado no setor manufatureiro. Em outras
palavras, a partir do período indicado, a produção de riquezas pela economia
industrial cresceu em ritmo mais acelerado do que a geração de empregos, o que
determinou um crescimento restringido da mão de obra ligada às indústrias. Esse
cenário não foi revertido na década de 1990 e nos anos 2000, período no qual a
modernização do parque industrial, associada ao impacto da globalização sobre a
economia nacional, condicionou uma significativa redução da população empregada
no setor secundário. A globalização e a abertura do mercado nacional às
exportações estrangeiras provocaram o aumento da concorrência interna, com a
presença de produtos mais baratos e/ou de melhor qualidade. Alguns setores
industriais foram obrigados a se modernizar enquanto outros sucumbiram à
concorrência, provocando a diminuição dos postos de trabalho e a migração de
trabalhadores para o setor terciário;
- em relação ao
setor terciário, percebam que, em 1990, ele já absorvia mais da metade da mão
de obra brasileira: de um lado, o aumento de pessoal em ocupações mais
modernas, como as derivadas da introdução de novas tecnologias, responsáveis
pelo surgimento de novas profissões e de novas formas de gerenciamento e
administração como setores de franchising, turismo, call
centers etc.; por outro lado, houve também um crescimento em serviços menos
especializados em relação à exigência de conhecimentos tecnológicos e com menor
relação capital/trabalho. Para alguns economistas, as mudanças ocorridas após
a introdução de meios informacionais na produção e de novas formas de
administração causaram uma subdivisão no interior do próprio terciário, fazendo
surgir um terciário superior e outro, inferior. Os serviços e o comércio do terciário superior representam
a absorção da mão de obra em setores ligados às novas tecnologias e formas
modernas de administração do comércio e dos serviços, como setorde franchising; telefonia
celular; serviços de suporte à informática; call centers; serviços
de entrega em domicílio, serviços especializados, turismo etc.
A reestruturação industrial causou demissões significativas em setores
industriais tradicionais, o que fez crescer a economia informal de baixa renda em atividades representadas
pelo comércio ambulante; vigilância; serviços de jardinagem;
"flanelinhas"; valetes (estacionamentos em eventos) etc. Em
função dessas alterações no perfil do setor terciário, ele absorveu
trabalhadores a taxas anuais superiores às observadas nos demais setores, o que
significa que os postos de trabalho gerados se revestiram de baixa remuneração
e qualidade.
A transferência da PEA da indústria para o setor terciário consiste em
um fenômeno mais evidente nas metrópoles, onde se
concentravam as aglomerações industriais tradicionais. De modo geral, vem
ocorrendo um intenso processo de terciarização das atividades
no mundo "subdesenvolvido", inclusive
nas metrópoles e cidades médias brasileiras. Esse fato deve ser entendido não
como resultado da industrialização, e sim de problemas existentes em suas
economias. Não havendo empregos suficientes, ocorre uma hipertrofia do setor
terciário, ou seja, o setor cresce desmedidamente, gerando uma economia
informal no terciário inferior, representado por atividades de baixa
remuneração, tais como vendedor ambulante, camelô, guardador de carro, vendedor
nos semáforos etc. Esses são exemplos típicos da situação de desemprego e
subemprego.
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