REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO
MUNDIAL
O espaço mundial pode
ser dividido e classificado com o uso de vários critérios. Por ser
diferenciado, em função dos seus aspectos físicos ou naturais (clima, relevo,
solo, vegetação, hidrografia etc.) sociais e econômicos (produção de riquezas,
culturas etc.), o espaço geográfico pode ser dividido e classificado de
diferentes modos, em regiões ou grupos de países, levando em conta as
diferenças e semelhanças das diversas áreas conforme um critério específico.
Regionalizar um determinado espaço geográfico significa dividir ou
agrupar suas partes e regiões de acordo com características comuns. Qualquer
regionalização é apenas parcialmente verdadeira, pois quem agrupa ou reúne suas
partes o faz de acordo com um interesse específico.
Qualquer conjunto de
informações é seletivo e, portanto, não dá conta de mostrar todos os aspectos
da realidade. Vamos trabalhar formas de percepção, para que compreendam como
todo mapa resulta de uma seleção prévia de informações (o que, no limite, o
aproxima de um livro, da televisão, de um artigo de jornal ou notícia de rádio,
por exemplo).
Isso quer dizer que, em
determinado mapa, apenas alguns fatos são mostrados, enquanto inúmeros outros
são deixados de lado. E isso por uma razão muito simples: é impossível
representar tudo o que existe em uma área, principalmente em uma imensa região
ou em todo o globo, sendo necessário, portanto, uma “filtragem” prévia das
informações que se pretende retratar em um mapa.
Nenhum tipo de regionalização é melhor que o outro, são formas de compreensão
do mundo que vivemos. As várias formas de regionalização do mundo atual
decorrem de diferentes critérios utilizados. Isso implica discutir,
essencialmente, distintas maneiras de ver e compreender o espaço mundial.
O espaço geográfico é um espaço diferenciado em virtude, principalmente, da
variedade de elementos da natureza (clima, relevo, solo, vegetação etc.) e das
sociedades (produção de riquezas, culturas etc.). Regionalizá-lo, portanto,
significa dividi-lo em regiões ou grupos de países, levando em conta as
diferenças e semelhanças das diversas áreas, baseando-se, para tanto e
principalmente, nas variedades paisagísticas naturais ou na organização
socioeconômica. Espaços geográficos grandes ou pequenos podem ser
regionalizados, como é o caso de um bairro (dividindo-o em áreas residenciais,
industriais e comerciais) ou, ainda, do mundo inteiro (identificando, por
exemplo, regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas).
Algumas das mais importantes regionalizações do espaço mundial têm, como base,
critérios políticos e socioeconômicos. Os países do mundo podem ser
classificados e agrupados em função de sua renda nacional per capita, como
acontece, por exemplo, segundo os critérios adotados pelo Banco Mundial. Isso
resulta em um tipo de regionalização em que, principalmente nas estatísticas,
são representadas as economias classificadas como “baixa renda” e “média renda”
(comumente denominadas de “países em desenvolvimento”). Embora existam debates
sobre a adequação do termo “países em desenvolvimento” e fortes críticas com
relação à adoção do PNB per capita (e também do PIB per capita) como único
indicador de desenvolvimento, a classificação do Banco Mundial é largamente
empregada para propósitos operacionais e analíticos, dada sua simplicidade e
aparente consistência. Nos dias atuais, talvez a regionalização mais importante
seja a que inclui a famosa divisão entre “Norte” (países ricos,
desenvolvidos) e “Sul” (países pobres, em desenvolvimento),
que expressa uma das formas mais conhecidas de mostrar a distribuição da
riqueza no mundo a partir do processo de concentração de renda que se
estabeleceu ao longo do processo histórico e que se a partir da segunda metade
do século XX.
As regiões da ONU
As regionalizações do
espaço mundial utilizados pelo Banco Mundial e pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD); compreender as principais formas de divisão e
agrupamento dos países do mundo, com base na mensuração ou indicação do nível
de desenvolvimento e de subdesenvolvimento, através de conceitos PIB, PNB,
renda per capita e IDH.
As formas mais usuais de
divisão e agrupamento dos países do mundo têm por objetivo retratar a difusão
da riqueza e da pobreza e apresentar as desigualdades socioeconômicas entre os
países do mundo.
O PIB per capita (como
também o PNB per capita) é muito utilizado para mensurar ou indicar o nível de
desenvolvimento dos países. Em particular, são utilizados nas estatísticas
divulgadas pelo Banco Mundial. Esse banco foi criado em 1945, em Breton Woods.
Com sede em Washington D.C., conta hoje com 184 países-membros e tem como seu
principal objetivo a redução da pobreza e a promoção do desenvolvimento
sustentável.
Sob sua chancela existe
o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e
a Associação Internacional de Desenvolvimento (AID). O
primeiro concede empréstimos e assistência para o desenvolvimento de países de
renda média e com bons antecedentes de crédito, obtendo grande parte dos seus
fundos da venda de títulos nos mercados internacionais de capital. A AID,
por sua vez, desempenha papel importante na missão de reduzir a pobreza,
promovendo o progresso econômico e social dos países-membros mediante o
financiamento de projetos. A assistência prestada pela AID dirige-se aos países
mais pobres, aos quais concede empréstimos sem juros (a maior parte dos seus
recursos financeiros é obtida a partir das contribuições dos membros mais ricos
e até mesmo de alguns países emergentes).
Três conceitos
fundamentais da ciência econômica:
- Produto Interno Bruto (PIB):
expressão monetária referente à soma de todos os bens e serviços produzidos
durante o ano nos limites territoriais de um país, independentemente da origem
dos recursos utilizados;
- Produto Nacional Bruto (PNB): expressão
monetária dos bens e serviços produzidos por fatores de produção nacionais,
independentemente do território econômico;
- Renda per capita (por cabeça): corresponde ao resultado
da divisão da renda total pela população do país (pode ser medida em PIB per
capita ou em PNB per capita).
O crescimento econômico não é necessariamente sinônimo de desenvolvimento. Essa
ponderação é muito importante, pois, entre outros aspectos, permitirá a
compreensão mais facilmente das limitações do PIB, do PNB e da renda per capita
e visualização mais clara sobre a real situação dos países. O desenvolvimento
pode ser econômico ou social. Ao crescer, uma economia pode ter parte da sua
renda distribuída ou pode, simplesmente, ampliar as desigualdades sociais.
Embora o PNB e o PIB per capita permitam comparar o grau de riqueza dos países,
por se tratar de uma média (divisão do PIB ou PNB pela população total), a
renda per capita não exprime a realidade socioeconômica interna dos países, ou
seja, ela não informa sobre a desigual distribuição interna da renda, tampouco
sobre as condições socioeconômicas e o bem-estar humano nos países.
O PNUD criou o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para
avaliar o nível de desenvolvimento humano dos países, utilizando como critérios
três indicadores: expectativa de vida, alfabetização de adultos,
taxa bruta de matrícula e PIB per capita em dólares. Dessa forma, o
país que apresentar melhoria nesses índices figurará entre os que de fato estão
em desenvolvimento.
O IDH tem o objetivo de ser um índice (número) que permita indicar e comparar a
qualidade de vida da população de 177 países. Também pode ser calculado para um
Estado, município ou região. O IDH avalia a qualidade de vida da população,
considerando critérios abrangentes dessa população, uma vez que considera os
aspectos econômicos e outras características sociais, culturais e políticas que
influenciam a qualidade da vida humana.
O IDH varia de zero (0)
– em países com nenhum desenvolvimento humano – a um (1) – em países com
desenvolvimento humano total. Países com IDH entre 0 e 0,549 têm
um desenvolvimento humano considerado baixo. Países com índices entre 0,550
e 0,699 são considerados de médio desenvolvimento humano. Países com
IDH entre 0,700 e 0,799 têm um desenvolvimento humano considerado
alto ou elevado. e países com IDH superior a 0,800 têm um desenvolvimento humano considerado muito elevado.
Entre as principais críticas dirigidas ao IDH, podem ser destacadas: o fato de não levar em conta as formas de distribuição de renda e as diferenças culturais entre as nações. Esse último aspecto, por exemplo, abrange particularidades de comportamento quanto ao consumo e distintos valores que cada sociedade atribui a questões relacionadas à educação e formas de apropriação dos resultados da produção. Desse modo, apesar de ser um importante indicador, o IDH não contabiliza todos os aspectos do desenvolvimento e o bem estar das pessoas.
Entre as principais críticas dirigidas ao IDH, podem ser destacadas: o fato de não levar em conta as formas de distribuição de renda e as diferenças culturais entre as nações. Esse último aspecto, por exemplo, abrange particularidades de comportamento quanto ao consumo e distintos valores que cada sociedade atribui a questões relacionadas à educação e formas de apropriação dos resultados da produção. Desse modo, apesar de ser um importante indicador, o IDH não contabiliza todos os aspectos do desenvolvimento e o bem estar das pessoas.
O conflito Norte e Sul
A Divisão Internacional do Trabalho, ou da Produção, surgiu no
final do século XV com a expansão do capitalismo europeu para os outros
continentes. As colônias forneciam matérias-primas para as metrópoles, que as
manufaturavam e transformavam em produtos industrializados, repassados às
colônias. Modernamente, denomina-se Divisão Internacional do Trabalho, a
distinção existente entre as nações do globo quanto à organização
político-econômica e social, na qual se considera, também, o nível de
desenvolvimento socioeconômico da sociedade.
Quanto à forma de
organização da sociedade e da economia, ou seja, quanto ao sistema
socioeconômico, podemos identificar o capitalismo e o socialismo. O sistema
capitalista caracteriza-se pela divisão da sociedade em classes, determinadas
pela relação com os meios de produção (as terras, os bancos, as indústrias, o
capital). Aqueles que detêm o capital, ou os meios para produzi-lo, constituem
a burguesia. A grande parcela da população, destituída dos meios de produção e
que tem de vender sua força de trabalho para sobreviver, numa sociedade
capitalizada, é o proletariado. É importante compreender a expressão “vender a
força de trabalho”, pois, na organização capitalista de produção, o trabalho é
remunerado segundo as leis de mercado, baseadas na relação existente entre a
oferta e a procura. O trabalho é, portanto, uma mercadoria. Além das classes
sociais e da economia de mercado, no capitalismo encontraremos o predomínio da
propriedade privada ou particular dos meios de produção. A produção, por sua
vez, tem como objetivo a reprodução do capital, ou seja, o lucro. O sistema
socialista difere da organização capitalista sobre vários aspectos. Primeiro, a
sociedade socialista não está dividida em classes. Os meios de produção
permanecem sob a orientação do Estado. Predomina-se a propriedade estatal dos
meios de produção. O Estado, além de gerenciar os meios de produção, orienta a
produção em função das necessidades da sociedade. A economia é planificada e o
conceito de lucro é suprimido.
Quanto ao nível de
desenvolvimento econômico, podemos distinguir países desenvolvidos e
subdesenvolvidos.
As nações
desenvolvidas (também chamados de países centrais – já que estão
situados no centro do sistema capitalista) gozam de um padrão de vida elevado
para suas populações e concentram grande volume de capital. Destacam-se pelo
elevado desenvolvimento econômico, onde os problemas sociais - se existem - são
bem menos acentuados. A maior parte dessas nações foram metrópoles, que no
passado viviam da exploração do mundo colonial. Constituem centros de difusão tecnológica,
a ponto de determinarem as relações no mundo capitalista.
Os países subdesenvolvidos têm
presente, em seu quadro socioeconômico, a subnutrição e um desarranjo social,
na maioria dos casos, consequência do colapso de suas economias.
Desde a Idade Antiga, é
possível observar diferenças econômicas entre os povos. As grandes civilizações
da Antiguidade - egípcia, grega, romana, entre outras - exerciam o domínio
sobre vastas regiões, delas obtendo produtos agrícolas, óleos, corantes etc.
Esses vastos domínios, obtidos na maioria das vezes por meio de campanhas
militares, eram de fundamental importância para a economia imperial.
Na Idade Moderna (séc.
XVI), a expansão marítima e o consequente desenvolvimento comercial das nações
ibéricas (Portugal e Espanha) levaram à incorporação do continente americano ao
modo de produção europeia, em função de suas necessidades mercantis imediatas.
Na Idade Contemporânea,
os países industrializados (EUA, Inglaterra, França, Japão etc.) lançaram-se
sobre as nações mais atrasadas do globo (América Latina, África, Ásia e
Oceania), com a finalidade de assegurar novos mercados e fontes abundantes de
matérias-primas industriais, e neles organizaram uma economia voltada para o
mercado externo, em detrimento das necessidades locais das áreas ocupadas.
Essas colônias se especializaram, assim, na produção de gêneros que
interessavam basicamente às grandes metrópoles.
Após a Segunda
Guerra Mundial, a maioria das antigas colônias havia conseguido emancipar-se
politicamente; muitas, porém, mantiveram as estruturas de produção do período
colonial. A maior parte das colônias, antes da Segunda Guerra Mundial, estava na
Ásia e África. As relações entre os jovens países africanos e asiáticos de
independência recente, e as antigas metrópoles continuaram praticamente as
mesmas, ou seja, apesar da emancipação política, esses países continuaram a
exportar matérias-primas agrícolas e minerais e a importar produtos
industrializados, pacotes tecnológicos e capitais, em forma de empréstimos.
Esse processo, reforçado pelos investimentos externos dirigidos a esses
setores, provocou, na quase totalidade dos casos, a degeneração econômica dessas
nações, hoje caracterizadas por atraso em sua economia e grandes problemas de
cunho social, típicos do subdesenvolvimento.
De modo geral as
características dos países subdesenvolvidos são:
• Dependência tecnológica e financeira;
• Economia basicamente agrícola;
• Predomínio da população ativa no setor
primário;
• Industrialização incipiente;
• Exportação de matérias-primas agrícolas
e/ou minerais;
• Abundante mão de obra e baixos salários;
• Forte ação de empresas transnacionais
(multinacionais) e;
• Agricultura marcada pela ausência de
técnicas.
Os países do mundo
formam um conjunto bem heterogêneo (diferentes) dificultando a regionalização e
a adequação das terminologias para classificá-los.
“Emissões de dióxido de carbono, 2004” os dados das emissões de CO2: identificamos que, com relação à linha divisória Norte e Sul, grande parte dos países com as mais elevadas emissões de CO2 em toneladas por habitante está concentrada no Norte. Essa caracterização não é absoluta: o norte da África e Oriente Médio, China e Argentina estão fora desse eixo e tem emissões elevadas de CO2. Essa questão do controle das emissões de CO2 na atmosfera constitui um dos conflitos entre o Norte (principalmente por parte dos Estados Unidos) e o Sul. Nas negociações do Protocolo de Kyoto, um dos principais pontos discutidos, em 2008, foi a inclusão de países em desenvolvimento, como a China e a Índia, nas metas previstas para a redução daqueles gases (o Protocolo de Kyoto é um tratado internacional sobre redução de emissão de gases do efeito estufa). Em contrapartida, enquanto 35 nações consideradas desenvolvidas estão comprometidas com as metas desse Protocolo, os Estados Unidos (o maior emissor de gás carbônico) não o assinou. O impasse, desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio-92, na qual foi firmada a “Convenção sobre Mudanças Climáticas”, permanece: o compromisso entre os países-membros da ONU de reduzir as emissões de gases que contribuem para o “efeito estufa”.
Outro olhar sobre o conflito Norte e Sul se refere às migrações internacionais, ou seja, ao fluxo intenso de migrantes do Sul para o Norte (mapa “As migrações, final do século XX. De acordo com as Nações Unidas, há cerca de 150 milhões de migrantes em todo o mundo. Esse número é duas vezes maior que o de 30 anos atrás. Os principais fluxos migratórios internacionais, da atualidade, são relacionados a fatores de ordem econômica, política, religiosa e étnica. A maior parte dos fluxos migratórios dirige-se para os países desenvolvidos (centrais), pertencentes ao chamado Norte desenvolvido, cuja economia forte e melhores oportunidades de emprego representam atrativos para os imigrantes. Apesar da existência de fluxos migratórios para a Índia e Arábia Saudita, os grandes fluxos dirigem-se para os países do Norte: Estados Unidos (35 milhões) e Europa (56 milhões, destacando-se nesse total França, Alemanha e Reino Unido – Inglaterra), sem considerar as migrações ilegais (estima-se que, a cada ano, os Estados Unidos recebem 300 mil imigrantes ilegais). Tal fluxo tem gerado protestos nos países receptores, embasados na alegação de que o imigrante subtrai postos de trabalho da população local. Entretanto, essa argumentação encobre preconceitos e discriminações, além de estimular a xenofobia, situação que gera hostilidades sistemáticas contra os imigrantes. O sentimento de rejeição contra os imigrantes na Europa não é um fato novo. Ele está em ascensão nos últimos anos: partidos políticos conservadores europeus, de extrema-direita, têm se servido dessa questão nas disputas eleitorais, sensibilizando a população e contribuindo para a exacerbação do racismo que tanto marcou a história de alguns países europeus.
Vamos distinguir os
termos migração, emigração e imigração:
- emigrar: deixar um país para ir
estabelecer-se em outro;
- imigrar: entrar (num país estranho) para nele viver;
- migração: passagem dum país
para outro (um povo ou multidão).
No conjunto das migrações internacionais existem as voluntárias ou espontâneas
e as forçadas.
Um exemplo de migração forçada é a da região dos
Bálcãs. No final do século XX, a região dos Bálcãs (Leste Europeu) foi
fragmentada por movimentos nacionalistas e considerada um verdadeiro barril de
pólvora étnico, abrigando ondas nacionalistas que embalaram o sonho de uma
“Grande Sérvia”, de uma “Grande Albânia” ou de uma Croácia “etnicamente pura”.
Em 1995, a Bósnia foi divida numa fragilíssima federação muçulmano-croata da
Bósnia-Herzegovina (capital Sarajevo) e na República Servia (capital Pale) dos
sérvio-bósnios, onde todo mundo passou a se odiar ainda mais. Todos os lideres
dos Bálcãs, fossem sérvios, croatas, muçulmanos ou albaneses, sabiam que apelar
para os sentimentos separatistas conduziria fatalmente à política da limpeza
étnica tantas vezes praticada entre eles no passado. Tinham
consciência que, dada a multiplicidade de etnias que a maioria dos Estados
iugoslavos era composta, as declarações de independência desencadeariam as
velhas paixões e acirrariam os antigos rancores. Mesmo assim, eles foram em
frente e destruíram a República Federada da Iugoslávia, transformando a região
inteira num caldeirão alimentado pelo ódio étnico, devido ao deslocamento das
populações e pela imigração em massa de milhões de ex-iugoslavos para o
exterior (o que terminou por acirrar os movimentos xenófobos na Áustria e na
Alemanha recém-unificada). O resultado foi desastroso. Onde até 1990 havia, mal
ou bem, um país constituído e em relativa ordem, pronto para poder integrar-se
no restante da Europa, se tivesse um pouco mais de paciência, hoje existem seis
frágeis repúblicas, a maioria delas empobrecida pelas perdas materiais e pela
fuga da população, quando não entregues ao crime organizado, sem contar com um
permanente clima de frustração, misturado ao ódio étnico sempre pronto para dar
seu sinal de retorno.
Outro exemplo é do Curdistão, que não existe, nunca viu a sua
identidade política reconhecida e, até há bem pouco tempo, mesmo a identidade
cultural lhe era negada. Os curdos que inventaram a palavra Curdistão. É um
povo tribal que passa o tempo em guerras internas, não se organiza como nação e
perde todas as oportunidades de fazer frente aos inimigos comuns, ou de criar
uma forte e duradoura identidade política. Assim, os curdos estão distribuídos
em outros países, divididos, espalhados. As maiores comunidades vivem hoje no
Norte do Iraque, Noroeste do Irã e no Leste da Turquia. Neste último país, o
número parece ultrapassar os onze milhões, transformando-se na “pátria curda”
por excelência. Só que nenhum destes países tem a mínima intenção de ceder um
milímetro, quanto mais um quilômetro, e os curdos continuam a viver como
estrangeiros exilados em terras que sempre foram suas. No Iraque, são
conhecidas as atrocidades do regime contra os curdos após a invasão do Kuwait.
Do lado turco, as coisas não melhoram. A miséria é quase igual, e a fortíssima
presença militar, conjugada com as queixas permanentes dos curdos, dão uma
triste ideia da sua situação social e política.
Outra localidade com
refugiados é a Palestina, localizada ao sul do Líbano e a nordeste da Península
do Sinai, entre o Mar Mediterrâneo e o vale do Rio Jordão. Foi conquistada
pelos israelitas (mais tarde também conhecidos como judeus) por volta de 1200
a.C., depois que aquele povo se retirou do Egito, onde vivera por alguns
séculos. Mas as sucessivas dominações estrangeiras deram início a um
progressivo processo de diáspora (dispersão) da população judaica, embora sua
grande maioria ainda permanecesse na Palestina. No início do século XX, já
existiam na região pequenas comunidades israelitas, vivendo em meio à população
predominantemente árabe. A partir de então, novos núcleos começaram a ser
instalados, geralmente mediante compra de terras aos árabes palestinos. Durante
a Primeira Guerra Mundial, a Turquia lutou ao lado da Alemanha e, derrotada,
viu-se privada de todas as suas possessões no mundo árabe. A Palestina passou
então a ser administrada pela Grã-Bretanha, mediante mandato concedido pela
Liga das Nações. Depois de 1918, a imigração de judeus para a Palestina ganhou
impulso, o que começou a gerar inquietação no seio da população árabe. A
crescente hostilidade desta última levou os colonos judeus a criar uma
organização paramilitar – a Haganah – voltada para a autodefesa e mais tarde
também para operações de ataque contra os árabes. A Grã-Bretanha tentou frear o
movimento imigratório para não descontentar os Estados muçulmanos do Oriente
Médio, com quem mantinha proveitosas relações econômicas; mas viu-se
confrontada pela pressão mundial da coletividade israelita e, dentro da própria
Palestina, pela ação de organizações terroristas. Após a Segunda Guerra
Mundial, o fluxo de imigrantes judeus tornou-se irresistível. Em 1947, a
Assembleia Geral da ONU decidiu dividir a Palestina em dois Estados
independentes: um judeu e outro palestino. Mas tanto os palestinos como os
Estados árabes vizinhos recusaram-se a acatar a partilha proposta pela ONU. Em
14 de maio de 1948, foi proclamado o Estado de Israel, que se viu imediatamente
atacado pelo Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano (1ª Guerra
Árabe-Israelense). Os árabes foram derrotados e Israel passou a controlar 75%
do território palestino. A partir daí, iniciou-se o êxodo dos palestinos para
os países vizinhos. Atualmente, esses refugiados somam cerca de 3 milhões. Os
25% restantes da Palestina, correspondentes à Faixa de Gaza e à Cisjordânia,
ficaram sob ocupação respectivamente do Egito e da Jordânia.
Globalização e
regionalização econômica
É o processo de regionalização do espaço
geográfico mundial em curso, consolidando a ordem mundial multipolarizada.
Os aspectos
socioeconômicos do mundo pós-guerra Fria, no plano internacional, com o fim do
sistema de polaridades definidas ou da ordem mundial bipolar (EUA x URSS),
favoreceu o aparecimento de um sistema de polaridades indefinidas ou, em outras
palavras, de uma ordem mundial multipolar, caracterizada pela existência de
vários pólos ou centros mundiais de poder econômico. A partir da década de
1990, o antigo confronto ideológico (capitalismo versus socialismo ou EUA x
URSS) foi substituído por uma acirrada disputa econômica entre países e blocos
de países que passaram a se organizar ao redor de três principais centros de
poder econômica (Estados Unidos, União Européia e Japão), a chamada tríade do
capitalismo mundial. Essa nova realidade guarda relações com a constituição de
um espaço global, promovida, em grande parte, pelos avanços tecnológicos da
chamada Terceira Revolução Científica e Tecnológica.
Fora do plano econômico
e considerando a vida social, cultural e política, a nova ordem mundial,
surgida com o fim do socialismo real, resultou no enfraquecimento dos
horizontes políticos apoiados nos valores coletivos e sociais, dando lugar,
principalmente entre os jovens, à exacerbação de valores individualistas, cujo
principal objetivo passou a ser o de “subir na vida”, adotando atitudes de
consumo muitas vezes exageradas.
Com a derrocada do
socialismo real na União Soviética e, principalmente, após a formação da CEI
(Comunidade dos Estados Independentes), que demarcou o fim da antiga
superpotência da Guerra Fria, a inter-relação dos mais diferentes atores no
cenário mundial – Estados, empresas, organismos internacionais etc. – deixou de
sofrer as influências da chamada bipolaridade. Ou seja, desde a década de 1990
até os dias atuais, nas mais diversas regiões do mundo, as questões ou
acontecimentos relativos à economia, à geopolítica e às negociações
diplomáticas deixaram de ser influenciados direta ou indiretamente apenas por
duas superpotências ou dois pólos de forças dominantes.
A expressão Nova Ordem
Mundial passou a ser empregada na imprensa (jornais, revistas, televisão etc.)
e por estudiosos para nomear um novo arranjo ou composição de forças
internacionais que passaram a substituir a “velha ordem mundial”, isto é,
aquela que esteve baseada na disputa pelo poder mundial entre Estados Unidos
(capitalismo) e União Soviética (socialismo). A partir de então, diante de
profundas mudanças processadas no equilíbrio internacional de poder, certos
aspectos essenciais da realidade mundial foram alterados, no que diz respeito à
correlação de forças econômicas, militares e político-diplomáticas.
Na abertura dessa fase
ou período conhecido como “Nova Ordem Mundial”, três aspectos são importantes:
econômico, geopolítico e diplomático na realidade internacional, que passaram a
contar com o emprego de novos termos, que buscam resumir ou representar suas
principais características ou tendências. Embora termos como multipolaridade e
unilateralismo possam, em um primeiro momento, parecer antagônicos e
excludentes, na verdade eles ajudam a compreender a complexidade da atual ordem
mundial:
- Multipolaridade e multipolar:
esses termos se contrapõem à expressão bipolaridade e procuram passar a idéia
de que, na Nova Ordem Mundial, existem vários pólos ou centros mundiais de
poder econômico (principalmente Estados Unidos, União Européia, Japão e China),
que muitos estudiosos consideram o aspecto mais expressivo da Nova Ordem
Mundial, que se prolonga até os dias atuais;
- Monopolar e unipolar: do ponto
de vista do poderio militar, são empregados por muitos observadores e
estudiosos para denominar o cenário internacional entreaberto com o fim da
Guerra Fria, pois consideram que a Nova Ordem Mundial é monopolar (ou,
ainda, unipolar), pois destacam que os Estados Unidos são o único país a
exercer o domínio militar no panorama do mundo atual, ou seja, sem a presença
de um rival ou oponente capaz de contrabalançar ou equilibrar seu poderio nesse
sentido. A Rússia, por exemplo, a principal herdeira da extinta União Soviética
e hoje pertencente à CEI, ingressou em uma profunda crise econômica a partir do
início da década de 1990, fato responsável, entre outros, pelo enfraquecimento
do seu poderio militar. Com isso, em praticamente todo o globo, a superpotência
da América do Norte é o único país capaz de sustentar ou realizar intervenções
militares em conflitos mundiais importantes.
A globalização proporciona uma intensificação das trocas comerciais entre
diferentes regiões do globo, acompanhada de certas características econômicas
que criam dificuldades para uma maior participação dos países subdesenvolvidos
no comércio internacional, mantendo suas economias, em grande parte,
dependentes das decisões tomadas nos principais centros do capitalismo mundial
– Estados Unidos, Europa Ocidental (onde se destacam Alemanha e França) e
Japão, a chamada tríade do capitalismo mundial.
A globalização promoveu maior integração do mercado mundial diante dos avanços
tecnológicos nos transportes e nas telecomunicações, ela também acentuou a
regionalização ou a fragmentação da economia mundial, pois, desde o final da
década de 1980 e início da de 1990, fortaleceu-se a tendência de formação de
tratados econômicos regionais entre países, ou seja, a constituição de blocos
econômicos. Diante dos quadros competitivos que a globalização impõe, sobretudo
a partir desse período, diversos países passaram a se reunir ou agrupar em
torno de interesses econômicos comuns, com o objetivo de facilitar e expandir
suas trocas comerciais para se fortalecer nesse contexto. Isso significa dizer
que, embora a formação de tratados econômicos regionais entre países já se
manifestasse antes do final da década de 1980 e início dos anos 1990, a partir
desse período verificou-se o fortalecimento desse processo.
As características das associações econômicas existentes no mundo permitem
agrupar quatro tipos de blocos econômicos (referem-se apenas à economia, ao
comércio e ao deslocamento de pessoas; quanto ao aspecto militar, cultural,
educacional etc., existem outros tipos de acordos realizados entre países ou
Estados):
- União aduaneira ou alfandegária:
é um acordo de eliminação das barreiras alfandegárias entre países ou Estados e
fixação de tarifa comum externa aos países não membros que negociam com o
bloco. A união alfandegária pode formar-se em torno de um grupo de produtos –
como carvão, ferro e aço (caso da CECA) – ou de todos os produtos;
- Zona de livre-comércio: é
um acordo de eliminação ou redução de taxas alfandegárias sobre a importação e
a exportação de produtos entre os países-membros. No comércio com países não
membros, cada país do bloco possui autonomia para fixar suas tarifas
alfandegárias;
- Mercado comum: diz respeito a
uma associação comercial de dois ou mais países ou Estados, baseada na
eliminação de todas as tarifas alfandegárias, cotas de importação e outros
obstáculos, além da livre circulação de pessoas, capitais e serviços entre os
países-membros;
- União econômica e monetária:
possui as mesmas características do mercado comum, além da adoção de uma moeda
comum nos países-membros.
Exemplos
de blocos econômicos:
- A União Européia (UE) é
uma organização supranacional dedicada a incrementar a interação econômica e
reforçar a cooperação entre seus Estados-membros. Entre outras características
que a distinguem dos demais blocos da atualidade, está o fato de outorgar
(conceder) a cidadania européia a cidadãos de todos os Estados-membros,
permitindo aos europeus maior liberdade para viver, trabalhar ou estudar em
qualquer um dos países-membros;
- A Apec (Cooperação Econômica da
Ásia e do Pacífico) foi criada no ano de 1989, na Austrália, como um
fórum de conversação entre os países-membros da Asean (Associação das Nações do
Sudeste Asiático) e seis parceiros econômicos da região do Pacífico, como
Estados Unidos e Japão. Porém, apenas no ano de 1994 adquiriu características
de um bloco econômico na Conferência de Seattle, quando os membros se
comprometeram a transformar o Pacífico em uma área de livre-comércio;
- O Acordo de Livre-Comércio da
América do Norte (Nafta) integra as economias dos Estados Unidos, do
Canadá e do México. Iniciado em 1988 por norte-americanos e canadenses, o bloco
recebeu a adesão dos mexicanos em 1993. Com ele, consolidou-se um intenso
comércio regional na América do Norte para enfrentar a concorrência
representada pela União Europeia e;
- O MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) é
um bloco criado em 1991 pela Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, com o
objetivo de reduzir ou eliminar impostos, proibições e restrições entre seus
produtos. Em 2004, os países chamados andinos, como Chile, Bolívia, Equador,
Colômbia e Peru, associaram-se ao MERCOSUL. No ano de 2005, a Venezuela buscou
sua adesão ao acordo, mas teve de cumprir algumas exigências, como adotar a TEC
– Tarifa Externa Comum.
O processo de globalização gera, contraditoriamente, fragmentações, e tem
colaborado com a manutenção de regiões consideradas periféricas na mesma
situação, “excluídas” dos principais acordos e vantagens decorrentes da nova
organização econômica e política mundial.
Alguns processos de reconfiguração espaço-territorial, verificados nas últimas
décadas, foram motivados por conflitos geopolíticos ou por conflitos
étnico-culturais que se manifestam regionalmente. Trata-se de um tema
importante, pois impede que o foco sobre a globalização seja colocado de forma
exclusiva em suas dimensões econômicas e financeiras, em detrimento de seus
aspectos sociais, espaciais e culturais. A globalização é um fenômeno complexo
e multidimensional e não somente de processos econômicos de abertura de
mercados ou expansão dos fluxos financeiros internacionais.
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